domingo, maio 3

Paragens de domingo à tarde

É domingo. Pára-me o pensamento. Minto.

Pára-me o querer racional. Contradiz a vontade. Acelera-se tudo pelo mesmo. Se há algo que não pára é o pensar. Tento desligar o botão. A confabulação crónica estende-se a partir dos se's. Demasiadas expectativas findam em demasiadas delusões. Tretas. Logo à partida, a persistência no não ser acelera um mal estar intrínseco. A estratégia é o raciocínio, combinar a agilidade intelectual com o autocontrolo, físico e emocional. Mentir é difícil, não faz parte de mim. Espelho o que sinto, sinto-me invadida pela transparência. Todavia, acabo por perceber que, em sociedade, as pessoas nem sempre dizem aquilo que pensam. Ou sentem. Por vezes, esforço-me por isso. Por não ser Eu. Creio que, por vezes, a vida social sobrepõe-se à natureza de cada um. E isto implica uma sofisticação relacional. O uso de personas tornou-se banal. Uma perversão à honestidade da parceria que se estabelece entre duas pessoas, mas também àquilo que o próprio é. À sua integridade. Páro-me.

segunda-feira, abril 20

Coisas cá de dentro


Apetece-me um beijo. Um beijo daqueles que não despega. Em que sinto o bater o teu coração. O teu respirar. A tua mão a subir por entre a minha camisola, nas minhas costas, apertando-me contra ti. E mesmo com o calor do momento, a minha pela arrepia-se ao teu toque. Não que as tuas mãos estejam frias, porque nunca o estão, apenas porque me fazes sentir, e sentir-te, tão intimamente como se fossemos um só.


Fazes-me falta. Pelos beijos, pelos abraços, enfim, pelo toque. Físico e mental. Por aquilo que me dizes e, na maioria das vezes, por aquilo que não dizes. As palavras que falham entre as conversas que tens são as que mais desejo ouvir. Esses teus silêncios longos em que me perco como se um país das maravilhas fosse; mas nem sempre consigo seguir o coelho. 


Não é a ausência que me atormenta, mas sim o silêncio. Parece um inverno de frio constante e cortante interrompido raras vezes por uns raios de sol. Estes, quando surgem, aquecem e é isso que me faz aguentar o inverno. São duas ou três. De cada vez. E perante o silêncio, o meu Eu não se cala. Creio que é uma espécie de compensação. Há silêncios que falam, mas há silêncios que gritam. O meu Eu grita-me. Esforço-me por o ter em silêncio.


Não podemos comprá-lo, nem fazê-lo voltar atrás. O tempo é contínuo. Assisto aos dias a passar, os momentos a acotovelarem-se uns atrás dos outros e nada. São intervalos de nada interrompidos por umas horas de sorrisos. Genuínos. Os cerca de vinte músculos não se enganam quando o meu olhar encontra o teu. A alegria, mas sobretudo a tranquilidade que me trazes sempre que chegas junto de mim. Faz-me esquecer os intervalos pelo caminho.


E eu, continuo aqui. A caducar enquanto te espero. Mas diz que assim é. Que o carinho cresce com a saudade, que a paixão se incendeia com o desabafo, que a tristeza se dissipa com o regresso. E são as palavras, aquelas, do teu silêncio, que me acalentam no inverno. A certeza que tenho não se satisfaz com o silêncio. Falta a palavra, ou as palavras, apenas um sublinhar do que se sente como genuíno. Fico à espera, uma vez mais, que me tragas esse sorriso.


É à tua maneira. Seguimos o teu plano. Aliás, tu segues o teu plano, eu sigo atrás. Sigo o teu plano, e ainda que não o tenha visto, confio em ti. Sigo os teus timings, ainda que pense que os intervalos pudessem tornar-se mais ricos. Sigo. Apenas sigo. Mas pretendo ir ao teu lado. Sou paciente. Um dia será à nossa maneira, o nosso plano, o nosso timing. Quando esse dia chegar, estou cá para ouvir. Para te ouvir. Todos os silêncios que ficaram pendurados no tempo.


Os meus olhos não mentem. Sou transparente. Nada quis, alguma vez, suprimir ao teu conhecimento de mim própria. Sou o que sou. Apeteces-me e nada mais. A vida tem destes acasos. Tem dias em que tudo de desmorona e tem dias em que os castelos se elevam. E chega a um tempo em que se tem de desarrumar a mente, tirar tudo do sítio e organizar de novo. Arejar. Arrumar as memórias, confiar e apostar. Sem saber, sabe-se.


Que horas são? Chega o momento do desapego. Os intervalos têm hora marcada. Os invernos adivinham-se no calendário. É sempre quando a companhia mais apetece, quando o conforto se torna confortável, que se dá início a mais um silêncio. Um beijo diz tudo e, tem vezes, que para nada chega. Recolho mais umas memórias que me ajudam a suportar o inverno. Acordo e digo: Que memórias vestirei hoje? Fica a expectativa de surgir uma surpresa. Ainda que ausente, aguardo na esperança de novas memórias. Diariamente.

Gosto do inverno, mas não do teu inverno. Preciso de um beijo para acordar, e de um café. Ou de ambos, se forem dados por ti. Um abraço apertado será um bónus. E tu, o que gostas?

domingo, janeiro 27

Carro de Bois

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.

Eu não tinha que ter esperanças - tinha só que ter rodas...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.

Alberto Caeiro

Decisiveness

«Decisiveness is a very essential quality.
There are many people who are incapable
Of deciding, who go on thinking.
They waste their whole life in thinking
Whether to do this or not to do,
To be or not to be.
And they are always hesitating, they can't act
And without action life is futile.
They can't decide, and without decision
There is no possibility of your growth.
Yes, one should look
At all the possible alternatives
But not for too long.
It should not become a habit.
One should look at all the alternatives
And then one should be able to decide.
One should not wait for a perfect decision
Remember, because in life
There can never be any perfect decision.

I have heard about a man
Who was searching for a perfect wife.
He died unmarried obviously.
When he was dying somebody asked
"You travelled all over the world
You searched for a perfect wife.
Couldn't you find a single woman who was perfect?"
He said,"Yes, I came across a few
But they were searching for perfect husbands!"

If one is a perfectionist
One is doomed to fail.
Perfectionists are indecisive people.
Nothing satisfies them, everything falls short.
Their ideal is too high.
Everything seems to be unsatisfactory.

Decisiveness means knowing
That life is imperfect and life is short
Knowing that we have limitations
Yet we have to decide.
Alternatives are limited, we cannot wait forever.
One you decide then you go wholeheartedly into it
You risk all.
One has to be a gambler
Then only something is possible:
Growth is possible
A new birth is possible, a new being is possible.
Otherwise nothing is possible.
Decisiveness is absolutely necessary.»


Osho