segunda-feira, abril 20

Coisas cá de dentro


Apetece-me um beijo. Um beijo daqueles que não despega. Em que sinto o bater o teu coração. O teu respirar. A tua mão a subir por entre a minha camisola, nas minhas costas, apertando-me contra ti. E mesmo com o calor do momento, a minha pela arrepia-se ao teu toque. Não que as tuas mãos estejam frias, porque nunca o estão, apenas porque me fazes sentir, e sentir-te, tão intimamente como se fossemos um só.


Fazes-me falta. Pelos beijos, pelos abraços, enfim, pelo toque. Físico e mental. Por aquilo que me dizes e, na maioria das vezes, por aquilo que não dizes. As palavras que falham entre as conversas que tens são as que mais desejo ouvir. Esses teus silêncios longos em que me perco como se um país das maravilhas fosse; mas nem sempre consigo seguir o coelho. 


Não é a ausência que me atormenta, mas sim o silêncio. Parece um inverno de frio constante e cortante interrompido raras vezes por uns raios de sol. Estes, quando surgem, aquecem e é isso que me faz aguentar o inverno. São duas ou três. De cada vez. E perante o silêncio, o meu Eu não se cala. Creio que é uma espécie de compensação. Há silêncios que falam, mas há silêncios que gritam. O meu Eu grita-me. Esforço-me por o ter em silêncio.


Não podemos comprá-lo, nem fazê-lo voltar atrás. O tempo é contínuo. Assisto aos dias a passar, os momentos a acotovelarem-se uns atrás dos outros e nada. São intervalos de nada interrompidos por umas horas de sorrisos. Genuínos. Os cerca de vinte músculos não se enganam quando o meu olhar encontra o teu. A alegria, mas sobretudo a tranquilidade que me trazes sempre que chegas junto de mim. Faz-me esquecer os intervalos pelo caminho.


E eu, continuo aqui. A caducar enquanto te espero. Mas diz que assim é. Que o carinho cresce com a saudade, que a paixão se incendeia com o desabafo, que a tristeza se dissipa com o regresso. E são as palavras, aquelas, do teu silêncio, que me acalentam no inverno. A certeza que tenho não se satisfaz com o silêncio. Falta a palavra, ou as palavras, apenas um sublinhar do que se sente como genuíno. Fico à espera, uma vez mais, que me tragas esse sorriso.


É à tua maneira. Seguimos o teu plano. Aliás, tu segues o teu plano, eu sigo atrás. Sigo o teu plano, e ainda que não o tenha visto, confio em ti. Sigo os teus timings, ainda que pense que os intervalos pudessem tornar-se mais ricos. Sigo. Apenas sigo. Mas pretendo ir ao teu lado. Sou paciente. Um dia será à nossa maneira, o nosso plano, o nosso timing. Quando esse dia chegar, estou cá para ouvir. Para te ouvir. Todos os silêncios que ficaram pendurados no tempo.


Os meus olhos não mentem. Sou transparente. Nada quis, alguma vez, suprimir ao teu conhecimento de mim própria. Sou o que sou. Apeteces-me e nada mais. A vida tem destes acasos. Tem dias em que tudo de desmorona e tem dias em que os castelos se elevam. E chega a um tempo em que se tem de desarrumar a mente, tirar tudo do sítio e organizar de novo. Arejar. Arrumar as memórias, confiar e apostar. Sem saber, sabe-se.


Que horas são? Chega o momento do desapego. Os intervalos têm hora marcada. Os invernos adivinham-se no calendário. É sempre quando a companhia mais apetece, quando o conforto se torna confortável, que se dá início a mais um silêncio. Um beijo diz tudo e, tem vezes, que para nada chega. Recolho mais umas memórias que me ajudam a suportar o inverno. Acordo e digo: Que memórias vestirei hoje? Fica a expectativa de surgir uma surpresa. Ainda que ausente, aguardo na esperança de novas memórias. Diariamente.

Gosto do inverno, mas não do teu inverno. Preciso de um beijo para acordar, e de um café. Ou de ambos, se forem dados por ti. Um abraço apertado será um bónus. E tu, o que gostas?