Apetece-me um beijo. Um beijo daqueles que não despega. Em
que sinto o bater o teu coração. O teu respirar. A tua mão a subir por entre a
minha camisola, nas minhas costas, apertando-me contra ti. E mesmo com o calor
do momento, a minha pela arrepia-se ao teu toque. Não que as tuas mãos estejam
frias, porque nunca o estão, apenas porque me fazes sentir, e sentir-te, tão
intimamente como se fossemos um só.
Fazes-me falta. Pelos beijos, pelos abraços, enfim, pelo
toque. Físico e mental. Por aquilo que me dizes e, na maioria das vezes, por
aquilo que não dizes. As palavras que falham entre as conversas que tens são as
que mais desejo ouvir. Esses teus silêncios longos em que me perco como se um
país das maravilhas fosse; mas nem sempre consigo seguir o coelho.
Não é a ausência que me atormenta, mas sim o silêncio.
Parece um inverno de frio constante e cortante interrompido raras vezes por uns
raios de sol. Estes, quando surgem, aquecem e é isso que me faz aguentar o
inverno. São duas ou três. De cada vez. E perante o silêncio, o meu Eu
não se cala. Creio que é uma espécie de compensação. Há silêncios que falam,
mas há silêncios que gritam. O meu Eu grita-me. Esforço-me por o ter em
silêncio.
Não podemos comprá-lo, nem fazê-lo voltar atrás. O tempo é
contínuo. Assisto aos dias a passar, os momentos a acotovelarem-se uns atrás
dos outros e nada. São intervalos de nada interrompidos por umas horas de
sorrisos. Genuínos. Os cerca de vinte músculos não se enganam quando o meu
olhar encontra o teu. A alegria, mas sobretudo a tranquilidade que me trazes
sempre que chegas junto de mim. Faz-me esquecer os intervalos pelo caminho.
E eu, continuo aqui. A caducar enquanto te espero. Mas diz
que assim é. Que o carinho cresce com a saudade, que a paixão se incendeia com
o desabafo, que a tristeza se dissipa com o regresso. E são as palavras,
aquelas, do teu silêncio, que me acalentam no inverno. A certeza que tenho não
se satisfaz com o silêncio. Falta a palavra, ou as palavras, apenas um
sublinhar do que se sente como genuíno. Fico à espera, uma vez mais, que me
tragas esse sorriso.
É à tua maneira. Seguimos o teu plano. Aliás, tu segues o
teu plano, eu sigo atrás. Sigo o teu plano, e ainda que não o tenha visto,
confio em ti. Sigo os teus timings, ainda que pense que os intervalos pudessem
tornar-se mais ricos. Sigo. Apenas sigo. Mas pretendo ir ao teu lado. Sou
paciente. Um dia será à nossa maneira, o nosso plano, o nosso timing. Quando
esse dia chegar, estou cá para ouvir. Para te ouvir. Todos os silêncios que
ficaram pendurados no tempo.
Os meus olhos não mentem. Sou transparente. Nada quis,
alguma vez, suprimir ao teu conhecimento de mim própria. Sou o que sou.
Apeteces-me e nada mais. A vida tem destes acasos. Tem dias em que tudo de
desmorona e tem dias em que os castelos se elevam. E chega a um tempo em que se
tem de desarrumar a mente, tirar tudo do sítio e organizar de novo. Arejar.
Arrumar as memórias, confiar e apostar. Sem saber, sabe-se.
Que horas são? Chega o momento do desapego. Os intervalos
têm hora marcada. Os invernos adivinham-se no calendário. É sempre quando a
companhia mais apetece, quando o conforto se torna confortável, que se dá
início a mais um silêncio. Um beijo diz tudo e, tem vezes, que para nada chega.
Recolho mais umas memórias que me ajudam a suportar o inverno. Acordo e digo:
Que memórias vestirei hoje? Fica a expectativa de surgir uma surpresa. Ainda
que ausente, aguardo na esperança de novas memórias. Diariamente.
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