sexta-feira, janeiro 5

a linguagem do não ruído

Proponho-me desenhar o mundo e traço a imagem do meu próprio rosto, a consciência rasgada pelo desbravar dos sentimentos. Não vislumbrei o cair de ti, na cegueira do teu ser, dominado pelo que não é dos outros, apenas nosso. As palavras são gritos acorrentados ao som do silêncio que existe entre cada batida de um coração. Procuro desdobrar o que me invade e arrumar em pequenos cubículos de modo a ser possível entender, mas silenciar as partes faz morrer um todo. Ouvi cada ruído de forma distinta, apesar de não lhes dar atenção, e assim que o silêncio começa a tocar-te, o que resta em mim é o virar da página. Diz o ditado que "um recipiente cheio não consegue receber mais", há, portanto, que saber esvaziá-lo se lá queremos internar algo. A mentira começa na primeira palavra, entre uma e outra, o saltitar do que faz sentido. Transito num espaço onde o caminho que parte de nós é o único que podemos, com prazer, seguir. Quando o adorar está no admirar do silêncio, tropeço na ternura da tua voz..

4 comentários:

Anónimo disse...

Ta lindo babe ;) * Dina *

Filipe disse...

"I know the pieces fit cause I watch them fall apart." qq coisa assim n é? *

psicotica disse...

E' quase isso: "I watched them fall away". Thanks plo comment. :) *

Danke Dina, és a maiore :) *

What more can i say? "Cold silence has a tendency to atrophy..."

Hugo Sousa disse...

O teu olhar ficará sempre no meu olhar quando morrer e, morto, contemplar as planícies que serão o teu olhar a anoitecer lento. O ter olhar ficará nas minhas mãos esquecidas e ninguém se lembrará de o procurar aí. Penso: nunca ninguém se lembra de procurar as coisas onde elas estão, porque ninguém sabe o que pensa o fumo, ou as nuvens, ou um olhar. E tu. Continuarás perdendo o silêncio por mãos esquecidas, irá a enterrar o teu silêncio dentro do meu peito. Mulher tantas vezes repetida na respiração de um lugar passado ou morto. Tempo e vida. Mulher, não sei o que fomos. Sei que, hoje, te possuo. Hoje conheço-te. É meu o teu olhar e o teu silêncio. E de nada me serve já, porque avanço para onde os homens deixam de ser homens.

O silêncio ficou sem sexo, as palavras não têm voz definida: homem ou mulher, de onde vem o som? Não quero ouvir, quero silêncio.