Já não tenho espaço em mim, Amiga,
que não tenhas devorado.
Fazes crescer-te por todo o lado
Dizes que não é, mas vejo-o prepositado,
Amiga, eras tão pequena quando te conheci
porque cresceste dona de ti?
De mim, do corpo, de nós, o ser..
Vendo-me, sem sorte, sem o teu querer.
Traiste-me, Amiga, vieste sem dar por ti.
Derrotaste a serenidade, filha do tempo que esqueci.
Poupa-me do teu desejo, Amiga;
Morre-me o tecto, desaba-me a vontade..
Não venhas sem dar conta, agora que faleci.
Dilaceraste a minha carne
e a consciência já consumiste,
destróis, em pormenor, o que o dentro consiste.
Leva de mim o sol, Amiga,
se só à noite me esconder permitiste.
Leva-me o sol e deixa-me a chuva, Amiga,
não a admiras, muito menos no teu corpo a sentiste..
Como pode a alma adorar esta doação triste?
Abre-me as pernas devagar e
viola-me, com prazer,
mas não me olhes nos olhos, Amiga,
se não tens nada pare me dizer.
É a doença, Amiga,
sinto-a cá dentro a festejar.
Corre-me no sangue, reflecte-se em espasmos,
encontro-a dentro de mim, só, a dialogar..
Somos muitos e dotados de vontade..
Sentes o meu tremer quando atravesso o teu olhar?
Amiga, tu que vives em mim, perdoa-me,
se as forças me crescem para te combater..
A memória é a máquina do tempo que usas e
não desisto, assim, mas sinto a falta de morrer.
Estás em mim. Sinto-te.
Vergo-me, penetras-me, delicias-me, matas-me..
Com prazer, com vontade, sem querer, sem piedade.
Matas-me.. Matas-me? Sim.
Quantos vieram quando te instalaste?
Mostra-me quantos são ou não decoraste?
És muitas, Amiga, e em todas não te encontraste..
Amiga, doença, és no meu sentir.
No esboço que me permites ser, vou a dormir.
Doença, Amiga, o meu corpo está a estalar.
Quebram-se as costuras, violentadas, ainda a respirar..
Matas-me.. doença, Amiga, doença. Amiga. A mim.
Porque escolheste uma magia assim?
Leva-me o sol, Amiga.
Deixa-me a chuva, e, à chuva.
Porque é a única que me permite chorar na vaidade da rua..
És doença, Amiga, mas não tens nome.
E quando findar, vais comigo.. e vais nua.